Dayverson de Barros desbrava o gelo suíço e arruma malas para a Inglaterra

O jóquei brasileiro Dayverson de Barros participou pela primeira do torneio Longines White Turf realizado durante três domingos consecutivos sobre a pista de gelo de um lago em Saint Moritz. Evento que acontece a 111 anos, o profissional deixou sua marca e ainda garantiu alguns dias montando em Ascot, na Inglaterra.

“Foi a primeira vez que fui à Suíça para montar num lago congelado. Foi uma experiência muito boa. É diferente e tudo correu muito bem. Eu montei três vezes, fiz dois 2º e uma vitória num dos Grandes Prêmios Longines. O cavalo Berrarhi tem 7 anos e era a sobra do treinador John Best, que há 4 anos vinha participando do torneio e pela primeira vez conseguiu vitória e a 2ª colocação na final”, revelou o jóquei.

Dayverson comentou sobre a experiência de competir no gelo.

Dayverson de Barros vencendo com Berrahri (Arquivo Pessoal)

“Montar no gelo é uma experiência muito diferente. É como se montasse no asfalto. Você sente o impacto, porque é duro, e também o gelo bate muito forte.  A gente recebe grama ou areia no corpo e no rosto durante as corridas comuns e não é problema, mas no gelo vem umas pedras muito forte, por isso muitos jóqueis usam uma máscara de proteção e óculos de esqui por serem mais resistentes. Você sente que o cavalo às vezes vai escorregar. É uma adrenalina diferente. Só mesmo montando para poder entender. No início deu um pouco de medo, principalmente por saber que embaixo é um lago, mas a segurança é total, pois o gelo tem mais ou menos 60 centímetros de espessura. Não posso mentir que rola uma insegurança, tornando mais empolgante a corrida. No final, tudo correu bem! Foi um prazer enorme montar e vencer num lugar desse”.

O profissional explicou como obteve o convite para participar da White Turf.

“Costumo trabalhar para a treinadora Beverley Deutron em diversos países (Marrocos, Dubai, Bélgica, Itália). Ela me chamou para uma corrida de cavalos árabes e perguntei se seria possível conseguir outra montaria na Suíça, para compensar a minha ida. Então ela falou com seu amigo John Best, que trabalha com Puro Sangue Inglês. Este treinador tinha dois cavalos para a disputa: o principal iria com o jóquei preferencial dele e a sobra era Berrarhi, que caiu nas minhas mãos. Acabou que o outro cavalo dele não competiu, enquanto o meu correu e obteve excelentes resultados”.

Apesar da adrenalina vivida e de ter perdido nos detalhes o último páreo disputado, o mineiro Dayverson pensa em retornar no desafio gelado em 2019.

“Penso muito em participar em 2019, pois é um lugar onde as corridas e os jóqueis são muito valorizadas. Vieram jóqueis de diversos lugares do mundo. Para a minha estreia, considero o resultado bem positivo. Talvez em 2019 eu consiga alguns contatos e montarias, até porque de avião da Suécia para Suíça são 2h de voo apenas e mais 3h de trem até chegar ao hipódromo”.

 

Oportunidades obtidas

O desempenho sobre o dorso de Berrarhi (Bahri e Band of Colour, por Spectrum), animou o treinador John Best que fez um convite irrecusável ao brasileiro.

“Na quarta-feira (21), ele me ligou, propondo que eu montasse para ele na Inglaterra durante um mês. John Best tem 36 animais na cocheira. Junto com a minha esposa, decidi encarar este desafio e na próxima segunda-feira, dia 26, estarei indo para a Inglaterra. Caso tudo dê certo, existe a possibilidade de fazermos um contrato para que eu me transfira para a Inglaterra. Ainda vale lembrar que John Best também corre cavalos na França. Ou seja, ter montado no gelo abriu mais portas para a minha profissão”.

Festejando após a vitória obtida no dia 11 de fevereiro (Arquivo Pessoal)

Resumo profissional

Dayverson de Barros é um mineiro que iniciou seu trabalho com cavalos de corrida em Sorocaba com Zeli Medeiros. Entrou na escola de aprendizes do Jockey Club de São Paulo em 2007. Depois de 18 meses, transferiu-se para a Escola de Profissionais de Turfe do Jockey Club Brasileiro, estreando como aprendiz de 3ª categoria até formar-se como jóquei.

Em 2010 ganhou a chance de trabalhar no exterior com os cavalos do Haras Estrela Energia. Após uma temporada de 6 meses apenas galopando em Dubai, viajou com a equipe e todos os cavalos para a Suécia. Ficou mais uma temporada de 6 meses e quando os cavalos retornaram para Dubai, Dayverson decidiu seguir na Suécia para tentar a vida aqui.

“Estou montando na Suécia há 6 anos, tirei a minha matrícula de jóquei, mas não foi fácil. No início fiquei sem documento, sem matrícula, 3 anos sem montar em páreos oficiais. Quando pude voltar a montar, era um ou outro cavalo. É muito difícil conseguir um espaço em território estrangeiro, mas Graças a Deus as coisas foram melhorando depois de muito trabalho e de passar muito frio. Nunca desisti e agora ganho esta chance de poder montar na Inglaterra. Estou muito feliz!”

Bandeira do Brasil sempre viaja com o jóquei (Arquivo Pessoal)

Apesar do difícil começo, o jóquei sabe que existe referências brasileiras importantes no turfe mundial.

“Silvestre de Sousa é um jóquei excelente, muito boa pessoa e é uma referência muito grande por ser brasileiro e campeão na Inglaterra. Também tem o João Moreira, que também é conhecido internacionalmente pelo que vem fazendo nos últimos anos. Os jóqueis brasileiros estão bem conhecidos aqui fora e isso facilita a entrada de outros profissionais no turfe internacional. É muito difícil, mas o feito destes brasileiros sem dúvida abre as portas para outros profissionais. Também não podemos esquecer que jóquei brasileiro é um pouco diferente dos demais. Considero que nós somos mais trabalhadores, resistentes, com mais energia e montamos qualquer cavalo, este é o motivo dos treinadores internacionais terem dado mais atenção para a gente”, revela.

 

Família é a base

Casado com a sueca Ulrika de Barros, que também atua com cavalos de corrida, e tendo ao lado o pequeno Lucas de Barros, Dayverson de Barros que aproveitar para agradecer aos que o ajudaram e seguir trabalhando.

“Estou com 28 anos, entrei na escola de aprendizes já com 18 anos, mas como diz o ditado: nunca é tarde para começar! Estou aqui, muito feliz e a princípio minha primeira montaria na Inglaterra deverá ocorrer no dia 2 de março, mas ainda não sei qual será o cavalo. Tudo isso que vem acontecendo comigo se deu graças à ajuda do Seu Mileno (Paulo Mileno), que me indicou ao veterinário Flavio Carneiro para obter a oportunidade de montar no exterior para o Estrela Energia. Agradeço muito ao Paulo Mileno por ser esta grande pessoa comigo e com diversos outros profissionais que o conhecem. Ele é um pai para todos nós”.

Os leitores ainda podem assistir uma entrevista exclusiva com Dayverson de Barros clicando aqui.